sexta-feira, 7 de setembro de 2012

A tal "modernização do futebol brasileiro" - com ou sem Mano

Obs.1: me perdoem a redaaaação... abstinência textual dá nisso! =P Se houver qualquer incoesão, avisem, por favor!

Obs.2: escrevo este texto logo depois do fraco jogo em que o Brasil bateu a África do Sul por 1x0. Até aqui, o jogo todo só mereceu um pequeno comentário; um tweet: "De todos os jogadores do Brasil convocados regularmente, só o Hulk parece ter vontade de jogar. Neymar está esgoado; os outros são apáticos!". C'est finni!
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Fanatismo
Numa discussão sobre futebol com colegas do Facebook, há questão de poucas semanas, usei em meu argumento que causou estranheza. Disse que a entrada de Mano Menezes na seleção brasileira foi "o primeiro passo para a modernização de nosso futebol". Pronto: caíram em cima. Que modernização haveria de ser esta; ainda mais com resultados duvidosos com seleções regulares e fraquíssimos diante de seleções de peso!? Que absurdo!!! Claro, pra quem já tem a tendência de projetar nos outros o que vê em si mesmo e não pode admitir, este é mais um episódio a entrar para o rol de sintomas do meu fanatismo clubístico: "o Sávio só defende o Mano porque ele é/foi do Corinthians". Inapelavelmente. Voilà, que democrático!
Não se vá, meu senhor!
Há trabalho aqui pra você!
Mas para quem realmente curte o esporte e suas controvérsias (ou mesmo quem prefere observar algum mínimo senso de justiça e dar chance ao réu que não sabia - já deveria saber! - que estava em julgamento), eis adiante a minha defesa explicação.

A tal "modernização"
Para torcedores que somos do Brasil, "país do futebol", até que não parecemos encarar o fenômeno desse esporte com muita acuidade... o que fez o Brasil ser o que é no cenário esportivo nacional foi o que construímos em dois momentos do esporte: os três primeiros campeonatos mundiais, conquistados quase em sequencia em 12 anos; e os dois campeonatos mais. O peso desses cinco títulos nos faz sentirmo-nos especiais no futebol - donos do esporte, naturalmente superiores. Predestinados! Tanto assim que o sintoma mais ridiculamente comum entre torcedores queixosos é culpar os jogadores de seu time de uma derrota por falta de coragem, de vontade, de concentração. Bastaria querer e se concentrar e pronto: o outro time deixaria de existir em campo! Razoável, né!?

Acontece que, enquanto fomos criando esse mito da natureza futebolística do Brasil, o mundo foi-se modernizando; e outros países modernizaram seu esporte com anos e décadas de antecedência. Não à toa a Espanha é o exemplo mais decantado deste processo: aproveitando um esforço de política esportiva que deflagraria a Olimpíada de Barcelona em 1992, o país voltou-se como nunca antes para o desenvolvimento generalizado do esporte. Hoje temos espanhóis fortes em toda sorte de modalidade, não só no futebol: Fórmula 1, tênis, futsal, basquete, ciclismo... Coisa que não era comum àquele tempo, duas décadas atrás.

Quando Mano assumiu a seleção, trouxe junto precisamente o discurso da modernização. Apesar da presidência de Ricardo Teixeira (e hoje de José Maria Marín) colocarem em dúvida estas ideias, o projeto parecia promissor: fazer um trabalho integrado às seleções de base e aos clubes; promover encontros e seminários para discutir o futebol brasileiro, remontar os parâmetros da escola brasileira de futebol e dar mais condições positivadoras à relação seleção-clubes com especial atenção aos campeonatos brasileiro e regionais. Dentro do raio de ação do técnico da seleção, parecia bastante coisa, já! Se conseguiria pôr em plano, como pôs, mas com pouco apoio (em especial da própria CBF) e pouca divulgação (em especial da grande mídia!)... aí é outra história.

Com ou sem Mano

Mano sucedeu Dunga (um discípulo vitorioso do velho estilo), Parreira, Felipão e, mais atrás, Zagallo; todos treinadores competentes, mas que sofreram agruras enormes no comando da seleção. Nossa lembrança é curta e faz dourar a pílula de cada um desses que já foram vilões a seu tempo. "Ai, como era bom aquele tempo!"... também assumiu o comando canarinho em um momento de transição de jogadores; lembremo-nos que o clamor popular pós-queda em 2010 era por renovação. Estamos com a seleção mais jovem de todos os tempos; e o mais curioso é que não há nenhum jogador dentro ou fora da seleção que provoque uma controvérsia generalizada. O elenco é esse aí mesmo, com poucas mudanças a depender de quem fosse selecionar sua seleção. Um mais um, e sobra o técnico para culpar pelos maus resultados, claro!

Não é bem assim. Sem o aporte de dirigentes competentes e de consequente modernização, que integre mais do que iniciativas pontuais, o futebol brasileiro vai continuar se sustentando nas pernas já sem sangue de talentos precoces (e às vezes superdimensionados) como Neymar, Lucas e Ganso. Isso até vendermo-los, ou estourá-los com 80 jogos por ano. E nem adianta vir com a desculpa aloprada de que "antigamente jogava-se duas partidas num dia ou quatro em uma semana, e ainda de ressaca da balada", porque é justamente isso que o futebol moderno mudou: nem os jogadores eram tão fisicamente preparados quanto hoje, nem os adversários o eram, nem a bola tão sintética, nem o capital tão presente (quando havia muito dinheiro, talvez fosse como muitas vezes foi por propina...). Podemos tapar os olhos perversamente mais uma vez e condenar um único profissional (como aconteceu com o Dunga, por sinal, embora aquele tenha provocado muito de suas inimizades) por toda sorte de malefício da seleção e de nossas vidas, mas isso não vai resolver os problemas já crônicos de nosso esporte adorado. Definitivamente, não vai.


De fato, Mano não desenvolve o melhor dos rendimentos, mas vem sendo minado de todos os lados a torto e a direito. Avaliar um técnico para seleção da mesma forma como se fosse em um clube é um tremendo erro: não há o convívio diário com jogadores, os treinos constantes, a garantia de confiança; ainda mais quando todos esperam que, naturalmente, o Brasil seja melhor. Não existe "técnico de time"; existe (ou deixam de existir) condições de trabalho a longo prazo. Mas o torcedor brasileiro, com certa dose de direito, alguma de razão e muita de mal-costume, não tem paciência pra esse tipo de análise; quer o jogo ganho, pois sempre foi assim. "Basta querer".

Ginga natural,  na raça e no pé. Ninguém segura! - só o Mano...
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De resto, com relação ao jogo deste 7 de setembro, fica a análise de Paulo Vinícius Coelho, que corrobora tudo o que já venho dizendo nesse dois anos de Mano Menezes (que felicidade de ter esse aporte!), sem tirar nem pôr! Segue o linkhttp://espn.estadao.com.br/post/280167_os-dois-lados-da-imensa-vaia-a-selecao-brasileira-no-morumbi

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